sexta-feira, 5 de março de 2010

Pobre! Antes de tudo um espírito a ser conquistado



Nos anos que sucederam ao Concílio Ecumênico Vaticano II a Igreja assumiu de modo radical uma postura mais politizada, no intuito de ser cada vez mais fiel a sua missão no mundo. Isso ficou bem visível de modo particular na América latina quando se desenvolveu uma ampla discussão sobre a realidade da pobreza.
Contudo, esse seu afã trouxe certo exagero, pois de forma bem sistemática e intelectual se construiu uma promessa bem utópica e um tanto quanto distante de se realizar, haja vista a tamanha disparidade entre a realidade presente e a realidade prometida. Com uma linguagem com a finalidade de salvaguardar os direitos dos pobres, mas que paradoxalmente não se preocupou com a situação existencial das pessoas, simplesmente não as atingiu. Esse pode ser um motivo que explique a pouca identificação de muitas pessoas com essas teorias[1].
Jesus Cristo, mais que um modelo é o caminho, com o qual devemos nos conformar e percorrer. Isso porque antes de fazer promessas, Ele mostrou com a própria vida como se constrói o Reino de Deus. Antes de exigir direitos, experimentou da injustiça humana. Antes de falar para os pobres e marginalizados, acolheu-os. E quanto aos ricos foram interpelados por sua autoridade, que procedia de sua coerência. Diante disso nos perguntamos: qual atitude as pessoas e o próprio Deus esperam de nós? Como cristãos que somos buscando se assemelhar a Cristo, devemos mostrar um testemunho verdadeiro e um acolhimento autêntico a todos os que sofrem. Apresentar a face misericordiosa de Deus, antes que um puro discurso utópico. É necessário superar o pessimismo que ofusca a presença de Deus na nossa história.
Na verdade os pobres são a riqueza da Igreja, como testemunhou São Lourenço, mas não porque somos seus tutores, mas porque eles guardam e nos ensinam o original espírito cristão, de confiança primordial em Deus e certeza de que as coisas deste mundo passam. Preciosos também porque são os herdeiros por excelência do Reino dos Céus (cf. Mt 5,3), são do mesmo modo equiparados aos pequeninos e humildes, dos quais também é o Reino dos Céus. E quanto a nós que formamos a Igreja, recebemos a missão de acolhê-los (Mc 9,37) e os conduzir ao convívio dos filhos de Deus.
[1] Cf. J. RATZINGER. O Sal da Terra, O Cristianismo e a Igreja Católica no limiar do Terceiro Milênio. Trad. Inês Madeira, Ed. Imago, Rio Janeiro, 2005.

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