sexta-feira, 19 de março de 2010

Solenidade de São josé, esposo de Maria

O texto que se segui dedico ao Protetor da Santa Igreja São José

A necessidade de ouvir

No mundo contemporâneo vivemos numa cultura barulhenta, até se fala de uma poluição sonora, que tem preocupado os médicos. Em contra partida já não somos mais capazes de parar para ouvir as pessoas que estão ao nosso redor. A televisão, o aparelho de som parece seduzir mais, que as relações intersubjetivas. Mais do que nunca precisamos escutar, ouvir verdadeiramente. Não se trata aqui de captar ruídos sonoros, mas realizar uma reflexão interior na qual poderemos encontrar a mais autêntica razão do nosso ser. O ouvir não é apenas uma passividade infrutífera, mas trata-se de uma interação intersubjetiva, o diálogo entre duas pessoas. E a sua finalidade está numa evolução do próprio ser. À medida que nos deparamos com ser do outro, que se desvela por intermédio de sua fala, nos auto-firmamos enquanto sujeitos.
Da Palavra de Deus vemos haurir seu apelo: “Ouve, ó Israel: o Senhor nosso Deus é o único Senhor!”. É da vontade do próprio Deus que nós o escutemos. Mas como realizar uma tão grande coisa, como escutar o Senhor? Ele mesmo nos mostra como é possível realizar tamanha proeza, quando nos precede no ouvir, (Ex 3, 7-9). Aí começa a realizar sua kenosis, ou seja, Deus se enche de compaixão de seu Povo, sente seu sofrimento e mais ainda, assumi como sendo seu. Mas do que nunca podemos afirmar: Deus entende o seu Povo. A encarnação do Verbo Divino, a Paixão, Morte e Ressurreição Jesus Cristo se constitui a expressão máxima dessa escuta (Fl 2, 6-11).
Mas como todo diálogo exige interação, agora é nossa vez de escutar, de ouvir. Assim com Deus assumiu nosso ser, com exceção do pecado, nós precisamos realizar nossa enosis, ou seja, nos deixar divinizar. Pois é Ele quem realiza em nos essa obra, na medida em que nos abandonamos em suas mãos, deixando para traz toda auto-suficiência. É preciso ouvir, deixa-se tocar pelo ser de Deus, só assim assumiremos essa natureza divina comunicada por Ele. Fica claro que ouvir é muito mais que silencia exteriormente, mas colocar-se a disposição, por fim aceitar a transformação do próprio ser. O modo de ouvir Deus assumido pelo Homem Novo é semelhante ao que chamamos de obediência, obedecer (“ob-audire”) que significa, de forma simples, submetesse livremente à palavra ouvida (CIC 144). Em outras palavras trata-se de fazer-se servo, pois só assim seremos considerados filhos (Lc 15, 19).
Maria é o arquétipo perfeito de quem ouve, de quem é obediente, por isso a chamamos a Nova Eva. Pois não se elevou, mas se fez serva (Lc 1, 38. 47) e só assim foi elevada, como acreditamos. Ainda hoje ela nos convida: “Fazei tudo o que ele vos disser” (Jo 2, 5). Eis nosso desafio diante de nossos olhos, mas não se trata de algo que colocamos em prática do dia pra noite e sim de um exercício que devemos praticar ao longo de nossa vida, o mais importante é não desistir.